sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ambiente Educacional Rico em Tecnologia: A Busca do Sentido

RESUMO
A presença das novas tecnologias, principalmente do computador, requer das instituições de ensino e do professor novas posturas frente ao processo de ensino e de aprendizagem. Trabalhos baseados em competências, utilizando problematizações e projetos, bem como os estudos recentes da Psicologia, da Antropologia e da Neurociência, apresentam-se como alternativas importantes para o professor compreender melhor o desenvolvimento humano e não apenas utilizar-se dos conteúdos das disciplinas. Diferentes formas de ensino, atendendo as individualidades com intervenções pedagógicas apropriadas como meio de elevar o nível de aprendizado. Atitudes investigativas e de inovação por parte dos docentes, tendo em vista as transformações tecnológicas, do conhecimento e das questões sociais.


Palavras chave: conhecimento, aprendizagem, ensino, tecnologia, concepções.
1. APRESENTAÇÃO


A velocidade com que as tecnologias avançam, impulsiona o homem a assumir uma postura que o coloque em atuação proativa frente a esta nova realidade. O acesso a estas novas tecnologias é cada vez mais facilitado e, hoje é difícil imaginar qualquer atividade realizada sem elas.A revolução tecnológica produziu uma geração de alunos que cresceu em ambientes ricos de multimídia, com expectativas e visão de mundo diferente de gerações anteriores, portanto, a revisão das práticas educacionais é condição para que possamos dar-lhes educação apropriada.Já nos anos 60, Marshall Mc Luhan afirmou que as novas tecnologias são sempre utilizadas para fazer trabalhos velhos, até que alguma atitude redirecione essa situação. Podemos dizer que essa vem sendo nossa experiência com a utilização dos computadoresNa escola, essa revolução tecnológica requer do professor uma nova forma de interagir: conteúdo, sala de aula, aluno, professor. Houve uma inversão de valores, onde o professor deixou de ser o ponto fundamental da aprendizagem do aluno para ser um referencial facilitador na construção do aprendizado.Esta nova forma de educar, faz com que o professor reavalie toda a sua atuação desde a preparação das aulas até a conclusão de cada conceito trabalhado.
Acompanhar as mudanças ou fazer retórica a respeito de modernidade não é suficiente, pois a evolução acontece, até mesmo independentemente da vontade individual, mas como parte de um processo de desenvolvimento em que todos estamos envolvidos, e as novas geraçnoes são incluídas nesse processo no estágio onde se encontra, não necessitando retomar ou reviver os estágios já percorridos pelas gerações anteriores.Partindo desse princípio, considerando as transformações do mundo, do conhecimento, das questões sociais, evolução tecnológica e o aprendizado necessário para o século XXI, preocupa-nos as instituições de ensino e os profissionais de educação.


2. ENSINO E APRENDIZAGEM - BASES TEÓRICAS

A concepção de ambientes de aprendizagem por computador requer a necessidade de considerar o vasto conjunto de princípios e concepções que abordam os processos de aprendizagem. Sabe-se hoje, que a aprendizagem processa-se por meio de relações entre os conhecimentos já adquiridos e os novos.
A utilização de novas tecnologias, sem mudança de paradigmas das concepções de ensino e de aprendizagem, poderá não ser tão significativa quanto se espera, por exemplo, a participação dos alunos tem maior probabilidade de sucesso nas salas de aula que enfatizam o uso de programas que permitem a experimentação e exploração, aplicação de hipermídia e softwares de autoria; e menor com o uso de software de exercícios de repetição e prática, podendo levar ao tédio e frustração por parte dos alunos.
A tecnologia dá uma dimensão adicional na criação de mundos artificiais e, com isso, nos deparamos com situações onde acontecem coisas não programadas, mas que precisamos lidar com elas, desenvolvendo a habilidade de trabalhar com o inesperado. Contudo, a construção do conhecimento pelo aprendiz não é um processo simples e imediato, mas complexo e de longo prazo, não se devendo confundir aprender com ser ensinado.
Reconhecendo esse conceito, podemos propor a aplicação de projetos mais longos, onde diversos conhecimentos possam ser utilizados e não apenas construções copiadas, simplesmente utilizando informações pouco ou nada trabalhadas. Alguns projetos podem se destinar ao uso social, outros para aprendizagem ou, mesmo ao prazer e entretenimento e os aprendizes podem estar envolvidos em um ou mais projetos e, estarem buscando informações sobre as coisas que precisam saber, em livros ou na Internet; o que importa é o ambiente interativo e criativo para que o projeto e, por conseguinte a construção do conhecimento aconteça.
Pensando em formar pessoas para a vida em sociedade, surgem os estudos sobre construção de competências, com o objetivo de levar em conta um problema antigo, que é o de transferir conhecimento, passar conteúdos disciplinares, geralmente justificados pelas exigências de escolaridade, mercado de trabalho ou seleções pelas quais os alunos poderão submeter-se. "Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos, sejam eles saberes ou informações, para resolver situações que lhe sejam solicitadas. Essas competências são de escolha da sociedade, baseada em um conhecimento amplo e atualizado das práticas sociais" (Perrenoud, 1999).
A transferência e a mobilidade das capacidades e dos conhecimentos precisam ser trabalhadas, exigindo tempo e situações apropriadas, para que não se acumulem saberes e informações apenas para passar em testes.
Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar com problematizações e projetos, propor tarefas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa e professores percebendo-se como organizadores de situações didáticas, envolvendo os alunos para gerar aprendizagens.
Além de preparo técnico, o professor deve ser capaz de identificar e de valorizar suas próprias competências, sejam elas de cunho profissional ou social. Isso exige um trabalho sobre sua própria relação com o saber, em que seu principal recurso é a mudança de postura com ações voltadas à reflexão, observação, inovação e aprendizado.
Porém, ao serem tratados todos os aprendizes, como iguais em direitos e deveres e, praticada a indiferença para com as diferenças, permite-se que os favorecidos aprendam mais rápido do que os outros, acentuando as desigualdades de aprendizagem.
Perrenoud (2000), afirma que "diferenciar o ensino é fazer com que cada aprendiz vivencie, tão freqüentemente quanto possível, situações fecundas de aprendizagem...", adaptar as práticas e intervenções pedagógicas ao aprendiz, não se referindo a abandonar a idéia de instruir ou de estabelecer objetivos essenciais, mas sim, de buscar atenuar as desigualdades diante da escola e a conseqüente elevação do nível de aprendizado efetivo.
As pedagogias diferenciadas, por não serem constituídas de um ensino centrado no saber, geram uma crise no funcionamento didático e na organização curricular tradicional, propondo-se cada vez mais estarem sensíveis às diferenças, na medida em que os alunos aprendem fazendo e refletindo sobre as situações encontradas no decorrer do trabalho realizado.
A maioria dos professores, estudou numa estrutura escolar com espaços e tempos definidos e rígidos, que exigia atenção contínua e linear, com avaliações que só serviam para classificar os alunos em bons e ruins. Hoje, com auxílio da Antropologia, Neurociência e Psicologia sabemos que todo ser humano é capaz de aprender e realiza aprendizagens de naturezas diversas durante toda a sua vida. Vale ressaltar que a experiência escolar insere-se num processo contínuo de desenvolvimento e terá significado na medida em que se articule com aprendizagens e experiências pelas quais o ser humano transita.
O fato de que a escola é um dos espaços de aprendizado e desenvolvimento humano, traz implicações como a de que o indivíduo não escolarizado deixará de construir determinados conceitos, porém, não deixará de se desenvolver: o desenvolvimento seguirá seu curso. Se o professor souber como funciona a atenção, a memória e a emoção nas diversas fases de desenvolvimento da pessoa, vai ensinar melhor.
O resgate das relações estéticas das diversas formas de linguagem, que são um dos sistemas expressivos da emoção humana, é uma das formas para o professor mudar seu jeito de ensinar. "O professor não pode perder a dimensão de que a escola é o lugar da ampliação da experiência humana, onde se constrói conhecimentos com o uso de diversas linguagens e imaginação" (Lima,1997).
Essas afirmações têm relação direta com o currículo e o planejamento das ações pedagógicas, pois alguns processos são essenciais e determinantes em um período de formação e estarão superados ou modificados em outro período. Segundo Lima (1997), a ação pedagógica não está coerente ao período de formação e suas possibilidades de aprendizado e, se não utilizar os instrumentos culturais adequados, não estará apoiada nas formas de pensamento do educando e, portanto, terá poucas possibilidades de ter bons resultados.
O aprendizado só ocorre quando são realizadas atividades como estudo, registro, pesquisa, ou seja, construindo conceitos. Os erros nada mais são do que estágios de pensamento que o indivíduo precisa superar e, o papel do professor é estudar e saber qual intervenção é necessária para que o aluno supere tal estágio.
3. PROFESSOR ‚ DESAFIOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Quem determina as possibilidades de uso dos softwares e da Internet na educação são os professores, com suas concepções sobre o que é ensinar, e, principalmente aprender, teorias de aprendizagem e práticas pedagógicas.
Além da responsabilidade das funções de escolarização, cabe também aos professores a responsabilidade de articular as mudanças sociais e culturais que os novos desenvolvimentos tornam possíveis
É necessário partir para um entendimento do computador, com todas as suas novas potencialidades, como sendo um parceiro que providencia oportunidades de aprendizagem, exercendo uma influência de ordem cognitiva no indivíduo, através das características da interface proposta, do software e das ferramentas, o importante mesmo é refletir sobre a natureza desses efeitos nos indivíduos e nas suas atividades de aprendizado.
Utilizar o computador na escola com objetivo de criar um ambiente de aprendizagem onde o aluno processe a informação, agregue-a e coloque-a em atividade mediante um desafio ou situação problema, ou seja, o computador precisa ser visto como mais uma possibilidade de representar o conhecimento e buscar novas alternativas e estratégias para se compreender a realidade. Criar diferentes formas de aprendizagem e de ensino com o auxílio da tecnologia, numa proposta pedagógica que tenha como centro o aluno e suas necessidades de aprendizado.
Ao analisar o trabalho docente, devem ser considerados os valores que traz consigo, não perdendo de vista as concepções que nortearam sua formação inicial e sua trajetória profissional. A única maneira de libertar o professor para fazer coisas diferentes é dar-lhe a oportunidade de colocar em prática as coisas nas quais acredita e com ferramentas adequadas, não isolá-lo, mas integrá-lo, formar redes de colaboração para que não desista, sentindo que é trabalho inútil ao aprendizado. Para tanto, a capacitação continuada, levando o educador a voltar-se sobre a sua própria prática, refletir sobre ela e no momento em que se percebe insatisfeito, sai em busca de novas alternativas pedagógicas.
Porém, as mudanças na educação também dependem dos administradores, que devem apresentar equilíbrio na gestão dos recursos tecnológicos, humanos e administrativos, contribuindo para que esse novo ambiente de aprendizado seja efetivo, permitindo, por exemplo, inovações e redes de colaboração entre professores, alunos e instituições.

Com a chegada da Internet nos defrontamos com novas possibilidades, desafios e incertezas. Não podemos, contudo, esperar das redes eletrônicas a solução para modificar profundamente a relação pedagógica. Com a Internet, o professor pode ampliar a forma de preparar a aula, pois lhe permite o acesso às mais recentes informações e materiais (imagens, sons, programas), lembrando que o papel do professor não é somente coletar informações, mas trabalhá-las, buscando melhores resultados em aula, tornando-as espaço de interação, de troca, discussão entre alunos e professores.
O uso do modelo de aula expositiva, resposta oral e trabalho individual tende a diminuir, propondo-se maior ênfase ao trabalho colaborativo.
Um dos desafios para os professores diz respeito ao estabelecimento de limites em relação às tarefas solicitadas, pois quando encontram o equilíbrio entre liberdade e controle o resultado é gratificante: alunos se arriscando, indo além do esperado, mais imaginativos e criativos. Buscar a ponderação entre a flexibilidade e a organização, procurando adaptar o ensino às diferenças individuais e ritmos de aprendizagem, bem como, gerenciar as divergências, os tempos e estabelecendo os mínimos essenciais. Trabalhar em grupo exige habilidade de encontrar o meio termo entre as expectativas individuais, as ligadas ao programa escolar e as sociais.
A exploração dos alunos nos computadores (software ou Internet) pode ser conflitante com o plano de aula: totalmente envolvidos na pesquisa, exploração, resolução de problemas, podem recusar-se a interromper o que estão fazendo, comprometendo os planos do professor e este, por sua vez pode ter reações diferentes: considerar como problema significativo ou como oportunidade para aprendizagem, reorganizando o cronograma e combinando com os alunos a forma mais adequada de encaminhar essas situações.
Professores atentos a novidades, com desejo de atualização constante, terão maior facilidade na utilização de tecnologias com objetivos educacionais, já aqueles que se limitam com aulas preparadas sempre da mesma forma, talvez saiam à procura de roteiros de aula para serem aplicadas, conforme o conteúdo curricular que esteja trabalhando.
Segundo Moran, "educar é colaborar para que professores e alunos transformem suas vidas em processos de aprendizagem..." e, o que nos torna bons aprendizes é estarmos continuamente conscientes e atentos às questões relativas a aprendizagem, buscando extrair sempre alguma informação ou experiência que pode nos ajudar a ampliar o nosso conhecimento.
O processo de ensino e aprendizagem nos dias atuais, exige menos conteúdos e tempos fixos e mais processos de pesquisa e comunicação, porém um cuidado a ser tomado é com a extensão das oportunidades de informação e comunicação e as diversas fontes de acesso, sem perder de vista os objetivos estabelecidos e o aprofundamento na compreensão de conceitos, para não correr riscos de ficar apenas na superficialidade
Algumas qualidades devem ser desenvolvidas pelo professor-pesquisador, por exemplo, a ação, a reflexão, a curiosidade, a inquietude e a incerteza. Além de dominar o conteúdo, deve ser aquele que analisa, é estudioso daquilo que lhe diz respeito e, acima de tudo, trabalha mais com dúvidas do que com certezas. Um profissional que saiba interagir com alunos e colegas de forma vivencial e comunicativa, despertando no aluno reações de confiança e inspiração, o que facilitará o processo de ensino-aprendizagem.





4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mera aquisição de tecnologias por parte da escola, para o simples repasse de conteúdos por um meio diferente, sem alterar a forma de relacionamento com o aprendiz, com o conhecimento e com a sociedade, causa inquietude e apreensão.
A utilização de novas tecnologias, entre elas o computador, vai muito além do uso de novas ferramentas de ensino, pois estamos imersos numa nova ordem sistêmica, com lógicas e princípios próprios, levando a questionamentos e pesquisas, como: Os canais de aprendizagem são modificados com a inclusão desse novo sistema comunicacional? Na instituição escolar com sua lógica curricular e didática, deve ser mantida ou revista? Em que?Quanto à necessidade da escola no futuro, não temos dúvida, mas uma escola transformada em espaço de comunicação, agrupamento e conexão entre pessoas, que receberão individualmente, as informações e conhecimentos e necessitarão colocar juntos o que aprenderam, a fim de melhorar, criticar e confrontar com as questões do mundo.Rever nossos referenciais teóricos, pois cada ação pedagógica revela uma concepção do ser humano e uma compreensão sobre o modo como se aprende, parece-nos pertinente, mas também são necessárias pesquisas para saber quem é o novo "sujeito da educação", a partir de uma nova relação com o mundo: um novo estilo de humanidade está sendo inventado.Vale a pena trabalhar no sentido de buscar e abrir novas possibilidades para o futuro, caso contrário, poderemos ser engolidos pelo processo.




REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA



BABIN, Pierre, KOULOUMDJIAN, Marie-France. Os novos modos de compreender: a geração do audiovisual e do computador.


São Paulo: Ed. Paulinas, 1989, cap.10.

HEIDE, Ann, STILBORNE, Linda. Guia do professor para a Internet: completo e fácil. 2 ed.


Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000, cap. 1

LIMA, Elvira Souza. Desenvolvimento e aprendizagem na escola: aspectos culturais, neurológicos e psicológicos.


São Paulo, GEDH ‚ Grupo de Estudos do Desenvolvimento Humano, 1997.

MORAN, José Manoel. Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias: transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencial-virtual.


Disponível em:< http://www.eca.usp.br>

PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

PERRENOUD, Philippe. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.


















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